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Micotoxinas na produção de gado de corte: qual a dimensão do risco e impactos produtivos?

grãos de milho contaminados com fungos e micotoxinas

Os fungos são um desafio de longa data em qualquer sistema produtivo. Eles contaminam alimentos e reduzem seus valores nutricionais, uma vez que se utilizam dos nutrientes armazenados para crescimento e reprodução de si próprios. Mas o perigo da contaminação não para por aí: para evitar competição por nutrientes, como um mecanismo de defesa em momento de estresse, os fungos produzem compostos tóxicos chamados micotoxinas. Derivada do grego, “mico” significa fungo. A palavra “toxina”, também derivada do grego, significa veneno. Portanto, micotoxicoses são distúrbios fisiológicos causados não pelo fungo em si, mas por compostos tóxicos que este é capaz de produzir e armazenar nos alimentos.

Na produção de aves e suínos esses compostos já são bem conhecidos e os efeitos da intoxicação clínica e subclínica são evitados em todas as fases produtivas em uma gestão do risco.

Mas e na produção de ruminantes? Qual a dimensão do problema?

Antigamente, antes dos últimos avanços na pesquisa, se acreditava que a fermentação do rúmen fosse capaz de detoxificar todas as micotoxinas presentes nos alimentos. Em algumas toxinas se observa uma redução da capacidade tóxica após fermentação ruminal (Bata e Lásztity 1999), porém, com os avanços das pesquisas, se entendeu que várias micotoxinas são biotransformadas em compostos com toxicidade equivalente ou até toxicidade superior ao composto original (Upadhaya et al ., 2010). Com ainda mais avanços, se compreendeu também, que sob algumas condições de desafio, como acidose ruminal, a detoxificação é ainda menor (Debevere et al., 2019). Ou seja, desde 1999 quando se acreditava não haver desafio de micotoxinas para ruminantes até os recentes estudos, muita pesquisa foi feita, e hoje se entende que os ruminantes também são uma espécie que precisam de cuidados com essa contaminação.

Figura 1: Biotransformação de micotoxinas no rúmen (Adaptado Upadhaya et al., 2010)

A Alltech fez um levantamento global em 2018, o Alltech Global Feed Survey, em dietas de bovinos de leite e de corte para ter um panorama de como se encontrava o risco da alimentação dos ruminantes no mundo. Foram mais de 900 amostras, e o resultado mostrou que, para vacas de leite, 47% das amostras estavam em alto risco. Já para bovinos de corte, 40,8% estavam em alto risco. No estudo, que englobou a análise de mais de 40 micotoxinas, foram encontradas, em média, aproximadamente pelo menos seis micotoxinas em cada amostra.

Figura 2: Pesquisa global para risco de Micotoxinas em dietas de ruminantes (Alltech Survey, 2018).

E no Brasil? Qual é o real risco da contaminação nas dietas?

Para responder esse questionamento, um grupo de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, em Colina (SP), fez um levantamento nos cinco maiores estados brasileiros produtores de bovinos confinados, para procurar nas dietas dos animais qual era o nível de contaminação. O resultado foi alarmante! Em todas as amostras havia ao menos uma micotoxina. Nenhuma dieta estava isenta de contaminação, sendo 65,5% considerada uma contaminação leve, 27,6% contaminação moderada, e 6,90% contaminação alta. Os pesquisadores concluíram, por fim, que as mais de 4 milhões de cabeças de gado estavam sujeitos a micotoxicoses em diferentes níveis (Custódio et al., 2019).

Figura 3 – Ocorrência de Micotoxinas (%) na ração total misturada de 30 confinamentos em 5 estados brasileiros (Custódio et al., 2019)

Figura 4 – Ocorrência de micotoxinas (%) na ração total misturada de 30 confinamentos em 5 estados brasileiros (Custódio et al., 2019)

Certo, então o problema existe, mas e de onde podem estar vindo essas micotoxinas? A verdade que é difícil apontar com precisão de onde veio a contaminação, devido à grande quantidade de processos encontrados nos diferentes tipos de ingredientes que compõe a dieta de um ruminante. Desde forragens conservadas, como feno ou silagem, a concentrados commodities, como milho e farelo de soja, passando por coprodutos que vem de outras indústrias, como DDGS e polpa cítrica: as Micotoxinas podem estar presentes em todos os ingredientes e, quando se misturam, os fatores de risco se multiplicam.

Em geral, as micotoxinas podem ter três origens principais: lavoura, armazenamento e processos (Tola e Kebede, 2016). Primeiramente, na lavoura, os fungos contaminam a planta antes da colheita. Como os fungos passam de uma planta para outra por meio dos esporos, e esses conseguem viajar longas distâncias com o vento, é extremamente complexo tentar prever de onde vieram. O ideal é manter condições como calor e umidade fora do alcance do desenvolvimento da planta, o que com o uso do plantio direto, muito difundido pela eficiência, é altamente limitante. Para driblar esse cenário, uma opção é optar por híbridos de plantas com algum grau de resistência aos ataques fúngicos, e caso necessário, manejos com antifúngicos são essenciais. Outro ponto preocupante é a resistência ao ataque de insetos, tendo em vista que o ataque facilita o aparecimento de fungos na planta.

Mais adiante, após a colheita, o armazenamento pode ser outra fonte de contaminação. Quando se trata de armazenamento por processo fermentativo, como silagens e pré-secado, a qualidade da compactação, vedação e desensilagem são essenciais para manter os fungos longe dos alimentos. Manter ambientes limpos e descartar todo material visivelmente embolorado também pode ajudar, assim como manter o alimento bem vedado o tempo todo de armazenagem. No caso do armazenamento de grãos, manter alta umidade e calor fora do alcance pode dificultar a vida fúngica. Por último, mas não menos importante, os processos dentro da propriedade merecem atenção. Nesses se enquadram: equipamento de moagem, vagão de mistura de ração total, pista de trato, ou qualquer outro equipamento ou local que terá contato com o alimento. Manter esses limpos e livre de contaminação por fungos pode ajudar a manter o problema minimizado. Todos esses cuidados são essenciais, já que uma vez depositadas, as micotoxinas tem alta estabilidade, ou seja, mesmo que algum manejo elimine os fungos, se os compostos tóxicos já foram depositados, vão permanecer no alimento até ser consumido pelos animais. Para ter conhecimento do risco momentâneo, é indicado fazer análises de micotoxinas em laboratórios de confiabilidade de resultados.

Uma vez que se entende que o risco existe, e como evitar grandes contaminações, é importante compreender a dimensão dos impactos nos animais que consomem essas micotoxinas. Os impactos são dois principais: impactos clínicos e impactos zootécnicos. Os impactos clínicos são desordens metabólicas, como diarreias, disfunção hepática, ou aborto, no caso de matrizes. Esses acontecem nos animais quando expostos à médias e altas contaminações. Outro impacto é nos índices produtivos e reprodutivos, que serão percebidos apenas se a produção passa por levantamento de dados de produção como: ganho médio diário, ganho de carcaça, consumo, taxa de prenhez, dentre outros. Esses, mesmo em baixas contaminações, já farão com que os animais desempenhem em níveis inferiores ao que observaria sem a contaminação.

Para demonstrar esse impacto, a APTA conduziu um experimento para avaliar o potencial de redução de desempenho de bovinos consumindo dietas com contaminação de micotoxinas. Os animais Nelore (n=100) tiveram a dieta contaminada com micotoxinas de forma exógena para atingir as concentrações de: Aflatoxina (10 ppb), Fumonisina (5754 ppb), DON (64,2 ppb) e Ácido fusárico (42,9 ppb). Os animais que receberam Mycosorb A+ (1g/kg MS) tiveram incremento de 120 gramas a mais de ganho de peso diário e 6,8 Kg de carcaça a mais nos 97 dias de confinamento (Custódio et al.,2020).

Figura 5 – Desempenho em ganho médio diário (GMD) e ganho de carcaça em terminação (Custódio et al., 2020).

Desse modo, além de entender qual etapa pode ser melhorada no controle de fungos, é preciso neutralizar o desafio com eficiência com o uso de adsorventes que sequestram as micotoxinas,  como o Mycosorb A+, é indispensável. Com um bom adsorvente de micotoxinas, não importa a origem da contaminação: a sua criação ficará segura contra intoxicações que irão limitar o consumo, produção, reprodução e saúde.


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