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Efeitos no mercado

Cepea efeitos no mercado

Foto: CEPEA

Pesquisador do CEPEA fala sobre impactos da quebra na safra brasileira

Após uma safra de grãos desafiadora, com ocorrência de secas e geadas em alguns estados do País, as consequências vão além da redução nos números da colheita. O impacto atinge vários elos da cadeia produtiva, causando efeitos para o mercado como um todo. Para o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) responsável pelas áreas de grãos, fibras e amido, Lucilio Alves, a redução desse choque de preços gerado depende de diversos fatores, como o contexto internacional.

Quais as principais consequências dos eventos climáticos ocorridos na safra 20/21 (geada e seca) no mercado?

Os estoques de alimentos, se falarmos em grãos (soja, milho, trigo, arroz), já tinham uma tendência de queda. Com a pandemia da Covid-19, estes produtos tiveram um choque de demanda, mesmo que pontual, com o intuito de segurança alimentar, o que fez com que alguns países restringissem as exportações de alguns produtos visando o atendimento das demandas domésticas. ­Posteriormente, seca e geadas, com casos mais específicos na América do Sul, reduziram ainda mais a oferta mundial. Isto contribuiu para que tivéssemos um choque positivo de preços. E com as ocorrências climáticas no Brasil, os preços acabaram se sustentando ainda mais e, em alguns casos como o do milho, tivemos choque de preços mais expressivos do que o observado no mercado externo.

Até quando esses impactos devem perdurar?

Como estamos com os estoques nos menores níveis, pelo menos desde 2013/2014, 2014/2015, precisamos de um segundo semestre muito bom no Hemisfério Norte e um primeiro semestre de 2022 no Hemisfério Sul para que ocorra uma recomposição dos preços mundiais. E isto efetivamente é o clima que irá dizer. Podemos considerar que certamente serão necessárias, pelo menos, a temporada 2021/2022 e 2022/2023, em condições normais, para o mercado talvez se ajustar aos patamares que estávamos observando anteriores à pandemia. E, claramente, anteriores a este ambiente de seca e geada no Brasil.

Há formas do mercado se prevenir de problemas relacionados a novas quebras de safra?

O que é necessário fazer, na prática, são dois aspectos importantes: um são as boas práticas produtivas, respeitando inclusive o zoneamento agroclimático, que ameniza os riscos; e o segundo relaciona-se ainda com a gestão do risco, mas nesse caso mercadológico, olhando do lado da oferta ou do produtor, que é efetuar seguros de garantia de safra ou garantia de renda.

O outro passo vem para o lado dos compradores, que envolve a efetivação de contratos ‘a termo’. Isto é algo que os produtores fazem bastante especialmente olhando as oportunidades de exportações, mas que não é tão frequente no mercado, especialmente para pequenos e médios negócios .

Qual a expectativa para a safra de 2021/2022?

Em um contexto econômico, os produtores estão vendo uma atratividade boa em termos de expectativas de rentabilidade. Podemos dizer que os preços estão atrativos. Claramente houve uma alta de custos, mas em boa parte ela não foi necessariamente na mesma intensidade do aumento de preços. Aqueles produtores que se planejaram e fizeram a compra de insumos com antecedência também não absorveram, ou não vão absorver, os aumentos de custos recentes. Os preços sinalizam até uma ligeira queda para 2022, mas de forma não tão expressiva e isto leva a uma expectativa de boa rentabilidade e a um certo otimismo dos produtores. O que pode afetar neste contexto é a taxa de câmbio.


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